quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ULISSES GUIMARÃES (*06/10/1916 +12/10/1992)
RESUMO BIOGRÁFICO:
O Dr. Ulisses, um dos maiores políticos brasileiros, Ulysses Silveira Guimarães ou Ulisses Guimarães nasceu em Rio Claro-SP, no dia 06 de Outubro de 1916, filho de Ataliba Silveira Guimarães e de dona Amélia Correa Fontes foi casado com dona Ida de Almeida Guimarães e teve dois filhos, Tito Enrique e Celina Ida; Ulisses Guimarães faleceu em 12 de Outubro de 1992.
Formou-se advogado pela Universidade de São Paulo (USP), em 1940. Antes de ingressar na política, foi secretário da Federação Paulista de Futebol. Elegeu-se deputado estadual em 1947, pelo Partido Social Democrático (PSD). Três anos depois, passou a ser deputado federal, função que exerceu durante 11 mandatos consecutivos. Foi presidente do MDB e PMDB durante vários anos e seu presidente de honra. Em 1987, o parlamentar comandou a Assembléia Constituinte. Candidato à Presidência em 1989, não obteve sucesso, mas marcou a história do País. Ulisses Guimarães morreu (desapareceu) no Rio de Janeiro, em 12 de Outubro de 1992.
"...Política não se faz com ódio, pois não é função hepática. É filha da consciência, irmã do caráter, hóspede do coração. Eventualmente, pode até ser açoitada pela mesma cólera com que Jesus Cristo, o político da Paz e da Justiça, expulsou os vendilhões do Templo. Nunca com a raiva dos invejosos, maledicentes, frustrados ou ressentidos. Sejamos fiéis ao evangelho de Santo Agostinho: ódio ao pecado, amor ao pecador. Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida..."
Ulysses Guimarães
"Há um grande silêncio neste plenário. Há uma grande ausência nestas salas e corredores. Não obstante o silêncio e a ausência, silêncio que perturba os nossos ouvidos, ausência que fere os nossos olhos, a voz forte de Ulysses Guimarães ecoa na consciência moral deste Parlamento, de nosso povo e do nosso tempo."
Pedro Simon (Senado - 26/Nov/1992)
Ulisses Guimarães morreu (desapareceu) em 12 de outubro de 1992, num acidente de helicóptero nos mares do Rio de Janeiro. Era uma segunda-feira, feriado nacional, dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. O helicóptero Esquilo, prefixo PT-HMK, que transportava os casais Ulisses Guimarães e Severo Gomes caiu 30 minutos depois de levantar vôo em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro, com destino a São Paulo.
O grupo retornava de um fim de semana na casa do empresário Luís Eduardo Guinle, no condomínio Portogallo. Severo, ministro da Agricultura do governo Castelo Branco e da Indústria e do Comércio do governo Geisel, rompera em 1977 com o regime militar, em 1979 filiara-se ao MDB e tornou-se um dos grandes amigos de Ulisses.Durante várias horas a nação viveu a expectativa de que Ulisses poderia aparecer com vida. Em vão. Com lágrimas nos olhos, o presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, na terça-feira, dia 13, reconheceu a tragédia. O Congresso preparou-se para receber os restos mortais do seu mais ilustre personagem. O corpo não foi encontrado, mas a morte foi oficialmente reconhecida. O país entrou em luto.
A revista Veja de 21 de outubro de 1992 trouxe em sua capa a silhueta de Ulisses em um fundo preto com os dizeres: "Por quem os sinos dobram - Ulisses Guimarães (1916-1992)". Ulisses Guimarães, aos 76 anos, morreu em plena militância política. Não pensava em se recolher ao papel de reserva moral do país: "Estátua, não! Estátua só serve para passarinho fazer cocô em cima da cabeça." Durante a curta estada em Angra, não deu tréguas ao seu projeto de lutar por um país melhor. Ali, em longa conversa telefônica com o presidente Itamar Franco, reafirmou seu compromisso de ajudá-lo na manutenção da governabilidade. Era importante fazer com que as pressões políticas do PMDB por cargos no ministério diminuíssem. Com o amigo e companheiro Renato Archer, ainda em Angra, discutiu os rumos da campanha parlamentarista, sua última causa. Politicamente ambicioso, Ulisses admitia que adorava se reconhecido e aclamado pela população. "Adoro o poder. Tenho fascínio pelo poder", costumava dizer. Não conseguiu realizar o sonho maior de ser eleito presidente do Brasil, mas como ele próprio desejava, morreu lutando. "Eu não quero morrer de raiva, nem de mágoa, nem de doença. Eu quero morrer na luta."

Homenagem "O Berço do Herói":
Ulisses Guimarães não passará para o segundo turno, mas cada voto depositado em cada urna deste país é uma homenagem ao bravo comandante da resistência democrática, é um tributo ao patriarca da transição, é uma reverência ao homem que permitiu o encontro do Brasil consigo mesmo.
A hora revela os gigantes e revela os anões. Quando o arbítrio, a prepotência eram palavra de ordem, a figura de Ulisses Guimarães se agigantou no estado de direito, das liberdades públicas e sociais, do direito do Homem. O Moisés que não chegaria a tomar posse da terra prometida iniciava perigosa travessia do deserto da ditadura. Sua vara e seu cajado apontavam para o amanhã da plenitude democrática. Nesse tempo das nuvens negras, era o manto do profeta solitário. Chefe de uma punhado de aguerridos companheiros e companheiros entrincheirados no antigo MDB, que abrigava e protegia os perseguidos de toda sorte, os que sofriam por amor a justiça, a família dos exilados e dos desaparecidos até nos porões, já nesse tempo de ferro e de fogo
Ulisses Guimarães conheceu a traição. Traição que ronda os grandes porque é a moeda corrente dos pequenos, os trinta dinheiro dos pusilânimes Ao réptil, repugna a coluna vertebral erecta e vertical, a história reserva o limbo do esquecimento para esses, já que não têm o requisito final do amor próprio necessário para buscar a redenção, como Judas na ponta da corda. O Traidor é a própria circunstância. Desprezível em vida e na morte.
Ulisses Guimarães não passará para o segundo turno. Mas, nos dias sóbrios, lutou contra tudo e contra todos em defesa de um país civilizado. Percorreu o Brasil como um bandeirante da liberdade. Enfrentou cães e beliguins, esbirros e mastins. Nas praças carregava o respeito da população desarmada, enquanto era ignonimamente evitado por antigos companheiros, então dedicados à inglória tarefa de lamber a bota de plantão no centro do poder. Ulisses Guimarães não passará para o segundo turno. Mas nesse momento doloroso da nossa história, passou a encarnar sobranceiro e corajoso, a própria história e passou e encarnar também a própria sociedade civil na luta contra o autoritarismo e a exceção da ditadura.
Sob o comando desse Moisés moderno e brasileiro, a ditadura foi enterrada na lata de lixo da história. A mesma lixeira que guarda os traidores, o trânsfugas e os acovardados de toda espécie. Representando o anseio nacional por DIRETAS JÁ, Ulisses teve a grandeza de ceder o lugar a Tancredo Neves na campanha das eleições indiretas que este conquistara. Ulisses combateu o bom combate, guardou a espada.
A história, no entanto, nos reservou a morte de Tancredo Neves e a subida de seu vice. O patriarca da transição tomou então, em suas honradas mãos, a missão de chefiar a elaboração da lei. Ulisses Guimarães não passará para o segundo turno. Mas, com o destemor cívico e moral, conduziu o congresso nacional em um momento difícil, guardou a lei, quando os traidores de sempre, prostituíam o lema do doce São Francisco de Assis e reduziam o lema (É dando que se recebe) na senha dos mercadores rebutins, na linguagem da pilhagem, no dístico dos traficantes de despojos.
Com a chegada a fronteira, Ulisses Guimarães não atravessará o Jordão como o chefe do povo que libertou, candidato a presidente novamente, foi traído pelos bajuladores de ontem, pelos covardes de sempre: o peito que manteve a chama da esperança também abrigou víbora. É o destino dos heróis, é o fardo dos gigantes, é a sina dos profetas. Ulisses Guimarães não chegará ao segundo turno. Mas este povo, ganhe quem ganhar as eleições, tudo fará para impedir qualquer manobra que viole a lei, que arranhe o estado de direito, que permita o casuísmo, que ameace as liberdades democráticas.
Alguém já lamentou a pátria que não precisa de heróis. Mas triste é a pátria que não possui um Ulisses Guimarães entre seus filhos.
Ulisses Guimarães morreu. O mar o quis somente para si, Eternamente.
(Alberico dos Santos - Dois anos após a morte de Ulisses Guimarães).

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