terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dickens mudou forma de fazer romances


Andréia Lago
Agência Estado

São Paulo - Há 200 anos, quando Charles Dickens nasceu, havia apenas 66 romances publicados na Grã-Bretanha. Os autores com obras publicadas sequer tinham pretensões de fazê-lo profissionalmente, e muitas obras era anônimas. O próprio sistema de impressão estava nos seus primórdios e o número de leitores não chegava a 50% da população. Era 1812, a Grã-Bretanha estava no início de um período de regência e incertezas: no ano anterior, o rei George III fora declarado irremediavelmente louco e seu filho, George IV, só assumiu o trono em 1820. Filho de um funcionário público com talento especial para endividar-se e afundar a família na pobreza, Dickens levou apenas 24 anos para mudar a forma como os romances eram lidos e percebidos pelos britânicos. 

Em 1836, Dickens deixou para trás a vida de garoto pobre marcada pelo trabalho num curtume quando tinha apenas 11 anos de idade para casar-se com a filha de um banqueiro e tornar-se um escritor profissional nacionalmente conhecido e bem pago. 

O sucesso veio com o que acabou se tornando sua marca registrada de publicação naquele período: a narrativa "The Pickwick Papers" (Os Cadernos de Pickwick), um folhetim em vários episódios publicados em encartes mensais ilustrados por Hablot K Browne, conhecido como Phiz e que colaboraria com Dickens muitas outras vezes. A história, que narra as aventuras do grupo de estudo do Clube Pickwick, composto pelo líder Sr. Pickwick e seus três pupilos, reúne uma extensa variedade de críticas à sociedade vitoriana da época, utilizando personagens estereotipadas que atuam como representantes das classes sociais do período - falsos padres, advogados corruptos, juízes parciais e políticos desonestos.

No ano seguinte, com a ascensão da Rainha Vitória I ao trono britânico e o início da Era Vitoriana, o autor encontra farto material social para mergulhar na carreira de romancista. Dickens lança, então, uma de suas grandes obras: "Oliver Twist", o primeiro órfão carente de uma série de personagens do escritor, um garoto pobre que cresceu num orfanato e enfrenta a delinquência das ruas provocada pelas condições precárias da sociedade inglesa da época. O personagem, retratado em filmes e musicais, é apenas uma das criações inesquecíveis de Charles Dickens. Mesmo quem não leu a obra do escritor britânico dificilmente poderá afirmar que nunca ouviu falar de David Copperfield, outro órfão que o abandono joga nas ruas, ou mesmo de Scrooge, o velho rabugento de "Um conto de Natal" que repetia sem parar que o espírito natalino é um "embuste". 

Seus romances se tornaram célebres num tipo de publicação que desapareceu do mercado - os folhetins publicados capítulo a capítulo - e que lhe rendeu fama e dinheiro entre 1836 e 1861. Com "The Pickwick Papers", Dickens se beneficiou da grande tiragem dos tabloides populares vendidos por centavos - a chamada "penny press" - e chegou a vender 50 mil cópias do folhetim . 

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