sábado, 5 de janeiro de 2013

Bob Kane

Em 1939, pouco depois do surgimento do Superman, a DC Comics vê aparecer seu segundo herói mascarado, Batman. Para explorar o sucesso excepcional de Superman, Whitney Ellsworth, supervisor das publicações da DC, recorre a Bob Kane, um de seus desenhistas mais engenhosos e lhe pede que crie um novo personagem. Por sua vez, Kane vai buscar orientação com seu amigo Bill Finger, autor de talento, com quem já criara Rusty and His Pals e Clip Carson para a Adventure Comics. A idéia básica de Bob Kane é vaga: um herói vestido de vermelho, com duas abas rígidas nas costas e um pequeno capuz como máscara. Dessa idéia inicial, Bill Finger manterá somente o nome inventado por Kane: Batman
O poder de evocação desse simples nome transportará Finger ao domínio de sua infância e de suas leituras favoritas: as Pulps da época de ouro. Utilizando suas lembranças de um velho filme de 1926, The Bat, e seu imenso conhecimento dos quadrinhos, Finger decide fazer o Batman uma criatura da noite, parecida com o Sombra e o Homem Aranha. Como os heróis de Walter Gibson e Norvell Page, Batman é um justiceiro impiedoso: parecido com o vampiro, por sua aparência aterrorizadora, com uma determinação implacável, ele inspira medo aos criminosos mais insensíveis. Uma vez decidido o aspecto do personagem, ao qual se atribuiu uma vasta capa de bordas em asas de morcego, uma máscara dotada de longas orelhas (que mais tarde diminuiu sensivelemente) e cores de conjunto azul-cinzento, muito mais adaptadas a uma ayividade noturna do que o vermelho original, era preciso dar-lhe uma personalidade. É aí que Bill Finger se afasta totalmente da tradição instaurada pelo Superman. O homem de aço podia satisfazer o público pre-disposto às façanhas de um herói invencível, invulnerável, sem falhas. Batman, vingador muito humano, sem poderes extraordinários, menos jovial que o kriptoniano, iria formar seu próprio público. A origem de Batman, revelada na Detective Comics nº. 33, ou seja, sete números após sua primeira aparição em seis páginas da Detective nº. 27 em maio de 1939, mostra total diferença de concepção entre os dois grandes heróis da DC. O jovem Bruce Wayne assiste, aos dez anos, ao assassinato do pai e da mãe por um criminoso violento. Anos mais tarde, tendo se tornado um "erudito excepcional" e alcançado a "perfeição física", ele decide começar sua luta contra o crime. Que aparência adotar ? - Bruce se pergunta. "Os criminosos são supersticiosos e facilmente amedrontáveis, e meu disfarce deve fazê-los tremer de terror. Tenho que ser uma criatura da noite. Escura, terrível..." Como por um milagre, um morcego perdido surge pela janela da mansão: "Um morcego ! É um presságio !... Eu me tornarei um morcego !" E assim nasceu a lenda.
A partir desse instante, está traçada a direção que o personagem terá: vingador mascarado impiedoso, Batman não hesita em se servir de uma pistola, se necessário. Seu papel é o de limpar o mundo, e sobretudo Gotham City (na realidade, Nova Iorque), dos criminosos de qualquer espécie. Nada deterá a marcha da justiça e os malfeitores serão duramente castigados. Esta ótica escolhida por Finger dá aos primeiros episódios de Batman um aspecto macabro muito estranho, quase digno das pulps de horror. Pouco a pouco Batman vai adquirir suas características mais familiares: cinturão com dispositivos, as luvas aladas, a capacidade de escapar de armadilhas inextricáveis, como um Houdini sobrenatural. Logo depois de seu confronto com o Dr. Death, na Detective nº. 35, Batman é confiado a um outro autor que não Bill Finger, um jovem advogado chamado Gardner Fox. Durante alguns números da Detective Comics, Fox incutirá um novo tom às aventuras do homem-morcego. Inimigos como o padre louco criam um ambiente inquietante, levando Batman à Europa, nos castelos assombrados, perseguindo vampiros, combatendo lobisomens e muitas vezes outras ameaças vindas do além. Essa orientação, bastante insólita para a época, não ia durar, no entanto. Enquanto Bill Finger chegava ao posto de comando na DC, Bob Kane se associou a um jovem assistente de dezessete anos, Jerry Robinson. A partir de dezembro de 1939, Robinson assegurará a continuidade artística de Batman, e isso durante longos anos. Mais que qualquer outro, ele contribuiu para definir o universo de Batman desse período. Na edição da Detective nº. 38 de abril de 1940, Robinson decidiu que Kane e Finger deveriam acrescentar um jovem amigo a seu herói: é o nascimento de Robin. Batman jamais será o mesmo. Seu pupilo Dick Grayson ajudará Bruce Wayne / Batman numa quantidade inacreditável se situações
perigosas, salvando-o mil vezes da morte. Com a vinda de Robin, Batman se humaniza consideravelmente. Ganhou um interlocutor e não é mais o vingador solitário do início. Nem jamais utilizará uma arma de fogo. Sua determinação de origem se transforma em capacidade fenomenal de dedução. Ele é um novo Sherlock Holmes e se torna o maior detetive do mundo, ao qual não faltam nem cérebro nem músculos. Diante de batman e Robin, Jerry Robinson desencadeia um exército de vilões, cada um mais estranho que o outro: o gozador Coringa, de sorriso maléfico; o Pingüim com seu guarda-chuva assassino e suas oito imagens; a Mulher-Gato e sua astúcia felina, que não a impedirá de se apaixonar por Batman; Duas Faces, o semi-desfigurado; promotor Attorney; Edward E. Nigma, o Charada, que sempre deixa indícios misteriosos em torno de seus crimes; o Espantalho; Camaleão; o Mosqueteiro; Tweedledum e Twedledee e uma centena de outros. O universo do crime parece atingido pela demência, pois todos esses adversárioa de Batman têm algum grau de loucura. O sucesso de Batman não arrefecerá durante estes anos. Sob a pena de Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson, o vingador mascarado e seu protegido correm ao volante do Batmóvel, assim que os inocentes são ameaçados. A popularidade do personagem se estende a todas as espécies de domínios. Em 1943, a Columbia leva Batman e Robin ao cinema num seriado com este título onde, durante 15 episódios semanais, os espectadores revêem Lewis Wilson e Douglas Croft no papel de nossos heróis, lutando contra o diabólico Dr. Daka, espião do império do Sol Nascente. No mesmo ano, uma tira completada por estampas no domingo introduzem Batman nos grandes jornais americanos. Nos desenhos de Bob Kane ou Jack Burnley (criador de Starman) pintados por Cahlie Paris, o homem-morcego chega ao seu auge. Ao lado dessa tira, Batman aparece com sua própria revista, na Detective Comics e na World's Finest Comics, fazendo algumas aparições como convidado da Sociedade de Justiça da América na All Star. É o triunfo. No correr dos anos, a popularidade de Batman não decresce, a não ser em meados dos anos 50, em que ele se defronta com ameaças ineptas e pouco interessantes. Mas da idade de ouro dos anos 40 a seu renascimento em 1966, graças ao seriado de TV da companhia ABC, Batman permanece uma força poderosa entre os grandes dos quadrinhos. Os episódios televisados de Batman marcam o triunfo da moda camp nos Estados Unidos em meados dos anos 60.
Adam West e Burt Ward encarnam Batman e Robin e encontram uma plêiade de vedetes que assumiram os traços de seus piores inimigos: Cesar Romero (o Coringa), Frank Gorshin (o Charada), Lee Meriwether (Mulher-Gato), Victor Buono (Rei Tut), Burguess Meredith (Pingüim) e muitos outros. É a segunda carreira gloriosa da dupla dinâmica que se inicia. A partir desse fantástico sucesso na televisão, montanhas de mercadorias Batman são vendidas no mundo. A tira diária recomeça am 1966, são publicados livros de bolso. uma torrente de aparelhos e traquitanas Batman invade o mercado. Sob o lápis de Neal Adams, Jim Aparo, Carmine Infantino e outros que garantem a continuidade nos quadrinhos desde Bob Kane, Dick Sprang ou Curt Swan, da idade de ouro, Batman afirma sua perenidade. Não se mata um símbolo. A noite negra. Um rato corre pelas calçadas molhadas. Tiros, gritos, uma sirena de alarme ressoa. Holofotes vasculham a escuridão, Gotham City está aterrorizada. O cenário está montado, é o momento para que entre em cena o homem-morcego, o único, o inigualável... BATMAN ! (D.H.Martin)
Texto extraído da apresentação do Livro Batman - Bob Kane Editora LPM Quadrinhos - 2ª. Edição - 1987.bricabrac.com

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